A história que parou o Brasil nas últimas semanas, e que chocou muitas pessoas por conta de contéudo, foi a de Margarida Bonetti, uma mulher que se escondia em uma casa ruindo aos pedaços em Higienopólis, em São Paulo, e que é acusada e procurada pelo FBI por manter uma funcionária em condições análogas à escravidão. Pela primeira, em mais de 20 anos, Margarida deu sua versão para Chico Felitti no podcast da Folha de S.Paulo. Compilamos alguns dos momentos para vocês. E um alerta: Tem muitos spoilers sobre o último episódio do Podcast que parou o Brasil. Ouça o último episódio na íntegra abaixo:
INÍCIO
Segundo Chico Felitti, após ficar mais de 72 horas de plantão na casa, e de ter uma rápida conversa, onde Margarida tenta enrolar o jornalista por mais um tempo, ele foi pego de surpresa com um telefonema dela dizendo que aceitava falar, e iria dar sua versão. Mas, antes, tenta, mais uma vez, adiar o podcast, e recebe a negativa. Ela diz:
“A gente pode adiar esse negócio todo? Não tenho condições agora no momento, mas, para frente quem a gente pode. (…) Como um bom jornalista, você deve ouvir todos os lados”.
Chico diz que não tem como adiar, e que sim, ele é ciente de que deve ouvir todos os lados, e que justamente vem tentando contato com Margarida há semanas, indo até o local, ligando para ela, e dizendo por fim que isso tudo é em compromisso com os dois lados.
Margarida começa a conversa preparando um terreno, dizendo que tenta fazer prevalecer o “O bem, o justo, o que é certo”, mas, se atrapalha ao longo da explicação.
JUSTIFICATIVAS
Mesmo após todas as investigações que o jornalista fez, ela começa dizendo que René Bonetti não é seu marido, que ela se divorciou, e mais para frente ainda diz que era uma relação que ela o enxergava como “seu pai”, pois, ele mandava e desmandava. Ainda disse que se divorciou dele por conta dessa história, e que não sabia de nada, jogando toda a culpa no, então, ex-marido:
“Este homem não é meu marido, me divorciei por causa dessa imundice toda. Eles pensam que a pessoa que é casada sabe de tudo, mas, eu não sabia”, diz Margarida em tom firme e esbravejando.
Chico conta que a data coincide com o fim da pena de René, quando ele sai da cadeia, após ser preso por trabalho escravo. Quando questionada sobre as agressões físicas, como sapatadas, socos, puxões de cabelo e mais, Margarida diz que tudo é uma máfia, e que tudo foi criado. Ainda diz que estas pessoas criaram um personagem, se referindo a isto e se referindo à si na terceira pessoa.
“Eles criaram um personagem. Eles criaram este ‘rolo’ e tinham um interesse, e seria interessante que você pesquisasse para a veracidade da situação. Eles pegaram três bobos, eu, meu ex-marido e a senhora”.
No fim, Margarida ainda pergunta como está a senhora que foi escravizada, mas, Chico diz que ele não irá falar, em respeito ao desejo dela, pois, ela não quer mais saber da mulher que à manteve em trabalho análogo a escravidão. Margarida diz que também não quer saber dela, e que à via como uma amiga.
“Ela foi uma mentirosa, uma traidora. Eu gostava muito dela, ela era uma amiga para mim, eu à via como uma amiga de infância, e tenho curiosidade de saber se ela está bem de saúde”
Quando volta a falar sobre uma suposta máfia, diz que existiam interesses financeiros, e que o interesse era para deixar as empregadas legais no país. E disse ainda que isto é inventado por eles, e que nunca aconteceu. Ela diz que a lei aprovada não era para ajudar as domésticas, e sim para tirar dinheiro dos patrões.
Sobre as acusações de manter a empregada em cárcere, e negar atendimento médico, Margarida disse que isso não aconteceu, e que ela que não queria ir ao pronto socorro, bem como, o tumor, declarado como maligno por especialistas, era na verdade benigno, e que ela era muito gorda por comer muito doce, sendo gulosa. Margarida se coloca como vítima, e diz que isso foi um golpe para incriminar ela, com participação da vizinha, que tinha inveja por ela ter comprado uma casa que ela queria.
OS QUATRO PONTOS
Depois de tantas justificativas contraditórias, e de até se alterar com Chico Felitti, a entrevista termina. Porém, o jornalista ainda mostrou que ela deixou recados em sua caixa postas dizendo que existiam quatro pontos para serem colocadas ainda, e que ela gostaria de deixar claro:
“Oi Francisco, eu decidi gravar, pois estou com dor no corpo, dor de tristeza de relembrar o passado. O primeiro ponto é o seguinte, ele era como um pai para mim e a gente não fica perguntando sobre as coisas monetárias. Ele me dava dinheiro, e dava dinheiro para ela”
Na sequência, Chico diz que o segundo ponto é sobre lealdade canina, e ela continua o recado ainda com o terceiro, que é ela querendo que a casa não seja incluída, porque antes, Margarida conta que ela presa o local, e é a única pessoa da família que pode manter a casa como o desejo da mãe, dizendo ainda que será restaurada “quando Deus quiser”
“Eles são honestos, fiéis, como esta mulher fez comigo. (…) Estou te pedindo para não fazer, por gentileza, não relacione esta casa a este caso horroroso, pois, você estará sujando a casa, e tornará ainda mais difícil minha defesa, e que ela continue bonita como ela é.”
O último ponto é o mais bizarro: Ela tenta convencer, mais uma vez, Chico de contar uma história diferente. Ao invés de contar sobre a escravidão e exploração de uma mulher negra, que viveu anos em cárcere privado, em trabalho análogo à escravidão, que ele explore a suposta máfia:
“É um caso velho, requintado. Quero te falar que se você quiser fazer esse podcast, ainda tenho esperança que você desista, é o seguinte: Eles usaram o casal, e ela, para conseguir a lei, fizeram uma manipulação, começando com uma manipulação da Vik (a vizinha), e com grandes interesses e muito dinheiro”
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